29/05/2018

Não te leves demasiado a sério

Pode ser da lua cheia
Pode ser do amor
Pode ser da criação
Pode ser da solidão
Pode ser da condição
Pode ser do dia não
Pode ser da química
Pode ser da quântica
Pode ser da semântica


Que sítio?

Que sítio é este, que sítio?
Que me faz sentir coisas que não sei explicar
Que me mareja os olhos de rios
Que me toma de beleza triste

Que sítio é este, que sítio?
Que me faz imaginar e nostalgir
Que me leva ao sonho a à sua morte
Enquanto uma nuvem encobre o luar

Que sítio é este, que sítio?
Em cujos vales águas se encontram
Em cujas encostas poetas se debruçam
Em cujas esquinas tempos se cruzam

Que sítio é este, que sítio?
Que mais parece o meu próprio peito


Ir

Às vezes basta dar uns passos
Basta apanhar um comboio
Basta atravessar uma ponte
Basta passar um portão
Basta seguir um rio
Basta ir
Pode até ser o destino que nos move
Mas é o caminho que percorremos


Seja o que nos acrescenta

Teus olhos
Meus caracóis
Minhas flores
Teu jardim
Minha city of light
Teus gray skies
Meu dark in the middle
Teu bright way of life
Meus braços, abertos
Teu olhar, profundo
Meu terraço
Teu beijo
Minha Alfama
Tua cama
O teu nome
Nos meus lábios
A minha língua
Na tua boca

25/05/2016

Would you?

Would you rather be a window shopper?
Gaze at life behind safe glass
Dreaming of what could if you just would
Paying no money wasting your time
Protecting from pleasure feeling the pain
Knowing the wind by the waving trees
Grasping spring through dressed up mannequins

06/02/2016

Carol

O barulho de um comboio. Uma grade. Que é chão, respiradouro. É entre o aprisionamento e a evasão que esta história se vive. O balcão para além do qual não se pode passar. O comboio em círculos. O casamento imposto. As visitas condicionadas. A moral instituída. O amor convencionado. Com Carol e Therese olhamos pelo canto do olho, por trás de janelas, por entre flocos de neve, através de uma objectiva. Respiramos por entre as grades da vida. E cumprimos o desejo de evasão em viagem, onde o carro, cujos assentos recebem o espraiar e servem de aconchego, nos levar. Ainda que aquilo a que chamam casa ensombre o rosto e o destino. No caminho, apesar de e para além de, o amor encontra um meio (uma mão encontra um ombro, que encontra outra mão), para logo ser ameaçado com o fim. Mas há algo que nos chama e ao qual temos de atender. Umas luvas deixadas para trás. Um telefonema em suspenso. Uma carta recebida. Um vislumbre através da janela. Uma mão no ombro. Por isso, caminhamos, apesar de todas as ameaças e de todos os medos. Em câmara lenta, como na tv. Para um novo lugar, para uma nova viagem. Para casa.


31/01/2016

(Eu) Largo

Mar alto, camisola folgada, avenida espraiada, céu aberto, horizonte.
Lugar que não (se) contém, mas onde os outros confluem.
Soltar, deixar ir, deixar correr.
Não agarrar, não segurar, não reter.
(Desistir, não gosto de o dizer. Não insistir, outra maneira de ver.)
Não prender. E, por consequência, não perder.

24/01/2016

Curva e contra a mesma

Curva do joelho, contracurva cotovelo
Essa brisa-furação despenteia-me o cabelo
Zap no programa, olha o zip do vestido
Bang-bang coração por sussurrar-te ao ouvido
Rio da má sorte, menos maré que marinheiro
E mergulho de cabeça em poliban de chuveiro
Chapéu já se sabe só sai quando não cai pingo
E eu não acerto linha quanto mais cartão de bingo
Humor de perdição, amor meu de encontro ao peito
Faz ver só qualidades onde o outro acha defeito
Lentes de paixão, antes míope sempre fosse
Confesso o meu amor, era uma vez, já está, acabou-se

08/01/2016

Sinais

Fora do teatro, onde a vida se contou em sinais, está o que lhes dá origem. O homem que escolhe uma peça de roupa como quem procura uma vida nova que lhe sirva. Os tupperwares que se distribuem por quem tem fome mas não comida. O abrigo que se imprime no colete e se dá a céu aberto. A porta do edifício neoclássico que se transforma em baliza de penaltis de vida súbita. Os táxis que levam para casa quem a tem e para o hotel quem dela temporariamente folgou. Os grupos que saem de jantares bem regados desmoídos em direcção ao próximo copo. A árvore que anuncia um nascer a quem dorme pela existência ou morre um pouco todos os dias. A estrela no seu topo que parece arranhar o céu escuro monocromático da cidade. Os repuxos da fonte que lembram momentos de erupção e simultaneamente recordam que o que sobe tem de descer. E em baixo, no chão, este tapete português onde, não importa o que calçamos, todos andamos.